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Descompasso entre produ??o e consumo diminui no trimestre

Veículo: Valor Econômico
Seção: Nacional
Página: A3

  
 
O descompasso observado entre o crescimento da produção industrial brasileira e o das vendas do varejo se reduziu no segundo trimestre deste ano. Enquanto o comércio avançou a passos mais lentos, a indústria ganhou ritmo. Entre abril e junho, o aumento das vendas em relação ao mesmo período do ano passado foi de 10%, quase igual aos 9,8% vistos no primeiro trimestre. Já a indústria produziu 5,8% mais nos meses de abril, maio e junho, número bem mais forte do que os 3,8% do três primeiros meses de 2007, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), para os dois indicadores.
A explicação para este movimento ainda não está clara. Uma hipótese é que a produção interna conseguiu abocanhar uma fatia do mercado que antes estava sendo abastecida pelas importações. Outra análise que pode ser feita é a de que indústria estava passando por um processo de ajuste de estoques no começo do ano e só a partir de abril aqueceu os motores. O crescimento da produção também pode ter sido motivado pela demanda aquecida. Neste caso, as indústrias teriam produzido mais já pensando na segunda metade do ano.
A importação continua forte, pelo menos nos dados agregados. O quantum importado subiu 22,7% no segundo trimestre em relação ao mesmo período do ano passado. Nos três primeiros meses do ano, nesta mesma comparação, a alta foi de 22,9%. A análise por categorias de uso, no entanto, aponta que a compra externa de bens não-duráveis, que são alimentos e bebidas cresceu, mas perdeu fôlego. Enquanto no primeiro trimestre a expansão chegou a 27,4%, no segundo ela ficou em 12,1%.
Maurício Moura, economista e professor do Ibmec-SP, acredita, porém, que com o cenário atual de forte incremento da massa salarial e do crédito, há espaço para a continuidade da expansão tanto das importações quanto da produção doméstica. 'Do ponto de vista da inflação é bastante saudável que se tenha esses dois crescimentos, pois assim evitam-se fortes repasses de preços', explica Moura.
Foram os produtos não-duráveis, segundo Bráulio Borges, economista da LCA Consultores, que frearam o ritmo de alta das vendas do varejo. No segundo trimestre deste ano em relação ao primeiro, segundo dados que já descontam os efeitos sazonais, houve estabilidade nas vendas dos hiper e supermercados (voltados principalmente para alimentos e bebidas). Como este segmento tem um peso de 40% no indicador de vendas do varejo do IBGE, impediu que o varejo mantivesse o mesmo ritmo.
Nesta mesma comparação com ajuste sazonal, as vendas totais do setor subiram 2% no segundo trimestre, após terem crescido 2,5% no primeiro em relação aos três últimos meses do ano passado. Na indústria, a produção do segundo trimestre foi 2,5% superior a do primeiro, um ritmo mais intenso do que o 1,4% registrado na passagem do final de 2006 para os primeiros três meses de 2007.
Apesar da análise trimestral mostrar um fôlego um pouco menor no comércio, os resultados isolados de junho indicam que este segmento da atividade econômica vai muito bem. Em relação ao mesmo mês de 2006, o incremento foi de 11,8%. Quatro setores encabeçaram este movimento. O item outros artigos de uso pessoal e doméstico teve alta de 28,9%, seguido por equipamentos e material de escritório, informática e comunicação, com elevação de 24,3%. Em seguida vieram tecidos, vestuário e calçados (16,6%) e móveis e eletrodomésticos (16,2%).
Com a alta de 11,8% em junho, o varejo fechou o primeiro semestre de 2007 com expansão acumulada de 9,9% em relação ao mesmo período do ano passado. Este foi o semestre de maior crescimento do setor desde o começo de 2001, quando a pesquisa começou a ser realizada. O número supera até os 9,4% registrados nos primeiros seis meses de 2004, considerado ano da recuperação do comércio varejista.
De acordo com o gerente da pesquisa, Reinaldo Pereira, o resultado alcançado pelo setor é reflexo das condições favoráveis da economia ao longo de 2007. 'Esse desempenho de 9,9% tem a ver com o estado geral da economia brasileira, em que se sobressaem o crédito farto, o aumento da renda, o controle da inflação, a diminuição do desemprego, as exportações crescendo, a indústria que voltou a crescer gerando mais renda para o consumo. Enfim há um cenário hoje bem mais favorável que havia sido no último semestre do ano passado, e isso explica esse crescimento acelerado do setor em 2007', avalia.
Para Zeina Latif, economista-chefe para o Brasil do ABN Amro Real, é preciso lembrar que o atual crescimento da demanda e, conseqüentemente do varejo, se dá em cima de bases muito mais elevadas do que as de 2004 (ano em que o Produto Interno Bruto brasileiro cresceu 5,7%). Para ela, a luz amarela já acendeu e o Banco Central reduzir o ritmo de corte dos juros. Do contrário, a demanda poderá se expandir muito e pressionar os preços. 'A política monetária tem um efeito defasado. Este aquecimento já é resultado dos cortes mais antigos', diz. Ela pondera que os destes ano ainda vão mostrar seus efeitos na economia real.
A economista do Unibanco, Giovanna Rocca, não está preocupada com um possível descompasso entre demanda e oferta. Pelos seus cálculos, nos três primeiros meses deste ano a média de crescimento mensal das vendas do varejo foi de 1,5% (em relação ao mês imediatamente anterior). De abril a junho, esta média caiu para 0,5%. 'Se continuasse naquela toada, o crescimento seria insustentável. Agora está mais condizente com uma projeção de aumento do PIB de 4,5% para o ano', explica.


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