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Em 5 meses, surgem 2,8 mil novas importadoras

Veículo: Valor Econ?mico
Seção: Brasil
Página: A3

 
Alexandre Serebrenik, 37 anos, realizou o sonho de ter um negócio próprio no mês passado, quando inaugurou oficialmente a importadora Atlântico. Ele está trazendo da China porta-retratos, despertadores, cabides, entre outros itens. Já começou a empresa atendendo cerca de 300 clientes, principalmente lojas que vendem produtos a R$ 1,99.
O empresário conta com a vantagem de conhecer bem os fornecedores, pois visitou a China 28 vezes nos 11 anos em que trabalhou em uma grande importadora de produtos populares. "O importador gera empregos indiretos no varejo e ajuda a controlar a inflação", diz, ao defender sua atividade, que muitas vezes é criticada pela indústria nacional.

A Atlântico será mais uma empresa a engrossar a lista de novas importadoras no Brasil. Conforme estudo do Departamento de Pesquisa e Estudos Econômicos do Bradesco, elaborado a partir de números do Ministério do Desenvolvimento, houve um aumento de 2.828 empresas importadoras de janeiro a maio desse ano em relação a igual período de 2006, para 21.599. Isso representa alta de 15%. Os motores da mudança são o fortalecimento do real e a pujança do mercado interno, combinação que eleva fortemente a demanda por produtos importados.

O diretor de pesquisa macroeconômica do Bradesco, Octavio de Barros, considera o movimento saudável, mais um sinal da transição que o país realiza de uma economia fechada para uma economia aberta. "Vejo isso como um processo natural de uma economia que se sofistica e busca excelência e competitividade. Sem negar as exceções, a empresa industrial brasileira está importando mais para ampliar a sua produção e sua exportação", afirma ele. Outros economistas, como Edgard Pereira, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), vêem o processo com mais preocupação.

A Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) estima que 28,5 mil companhias estarão adquirindo bens no exterior até o fim do ano, retomando o patamar de 2000, quando o número de importadores chegou a 28,3 mil, mas ainda inferior aos 37,8 mil de 1997. Entre 1998 e 1999, com a adoção do câmbio flutuante e a desvalorização da moeda, o país perdeu 8,6 mil empresas importadoras.

 O aumento recente do número de companhias comprando no mercado externo não se resume apenas às importadoras com fins comerciais, como a empresa de Serebrenik. Algumas indústrias instaladas no Brasil estão importando insumos para reduzir custos, ou mesmo o produto acabado, para completar o portfólio com itens que não vale mais a pena fabricar no país. Também é significativo o percentual de empresas que recorreram ao exterior para comprar máquinas baratas e se modernizar.

A Artefama, fabricante de móveis de São Bento do Sul (SC), começou este ano a importar vidro do México, ferragens da China, e cola dos Estados Unidos. Até mesmo uma parcela das chapas de conglomerado de madeira que utiliza, a empresa encomenda da Argentina desde 2006. "É a única maneira de se proteger um pouco do câmbio", diz Álvaro Weiss, diretor-presidente. Segundo ele, a Artefama importa hoje 10% dos insumos. Há dois anos, a companhia adquiria tudo que necessitava no Brasil.

A fabricante de camisas Dudalina importa jaquetas, tricô de algodão e alguns outros produtos da China. A empresa também compra na Alemanha os tecidos para fabricar colarinhos das camisas, por conta da qualidade superior do produto. Segundo a presidente da Dudalina, Sônia Regina Hess de Souza, o objetivo é fazer um "hedge natural" entre exportações e importações. "É uma maneira de minimizar os efeitos do câmbio e seguir exportando, pois não queremos abandonar o mercado externo", diz Sônia. Hoje, a Dudalina embarca para o exterior 20% da produção.

Conforme o presidente da Associação Brasileira do Vestuário (Abravest), Roberto Chadad, as empresas do setor também aproveitam o dólar barato para importar equipamentos: computadores para design de produtos, máquinas de costura e máquinas para o corte dos tecidos. Estão utilizando para esse fim o crédito oferecido pelo BNDES aos setores prejudicados pelo câmbio.

"Na importação, o efeito do dólar barato estimula vários setores e empresas de todos os portes", diz José Augusto de Castro, vice-presidente da AEB. "É diferente da exportação, porque apenas as pequenas companhias desistem do mercado externo por falta de rentabilidade." As empresas de menor porte estão comprando no exterior roupas, cosméticos e utensílios domésticos, enquanto nas maiores companhias, destacam-se as importações dos setores automotivo, telefonia e fertilizantes.

Segundo levantamento do Bradesco, as empresas que importam mais de US$ 100 mil por ano compraram no exterior 26,8% a mais em valor de janeiro a maio em relação a igual período de 2006, com o acréscimo de 1.258 companhias ao grupo. As empresas que importam abaixo de US$ 100 mil/ano também elevaram as compras externas em 14,5%, com mais 1.570 empresas.

Gustavo Dedivits, presidente da Associação Brasileira de Importadores de Produtos Populares (Abipp), teme que o aumento do número de empresas comerciais importadoras instigue o protecionismo do governo. Ele alerta que importar não é fácil, porque trata-se de uma atividade burocrática, cujo segredo é conhecer bons fornecedores. "Com o dólar barato, entram no mercado um monte de aventureiros", conta Dedivitis. "Tem fila de gente querendo falar comigo, pedindo conselhos para abrir uma importadora, mas não é tão simples como parece", completa.

 



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