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Brasil foi o pa?s que mais ganhou com o Mercosul, indica estudo

Veículo: Valor Econômico
Seção: Brasil
Página: A4

 
Dezesseis anos depois de lançado o Tratado de Assunção, que criou o Mercosul, o Brasil foi o país que mais se beneficiou da integração regional como um todo. Por outro lado, a integração não conseguiu reduzir os desequilíbrios de renda e desenvolvimento que atingem não só os países menores do bloco - Paraguai e Uruguai - mas também regiões inteiras do Brasil e da Argentina, que até agora não foram beneficiadas pela união aduaneira entre os quatro países. Esta é a conclusão de um trabalho intitulado 'Assimetrias no Mercosul: Impedimento para o Crescimento?', elaborado e recém-concluído pela Rede de Investigações Econômicas do Mercosul. A Rede Mercosul é composta de quase uma centena de economistas ligados às universidades do Paraguai, Uruguai, Argentina e Brasil (da qual fazem parte UFRJ, Ipea, Unicamp e Funcex). Eles estudam os principais aspectos econômicos do bloco e já lançaram cerca de dez livros, além de inúmeros 'papers'. O trabalho que analisa as assimetrias foi coordenado pelo Centro de Análises e Difusão da Economia Paraguaia (Cadep) e pelo Departamento de Economia (Decon) da Universidade da República do Uruguai. É composto por quatro estudos distintos, dois que apontam o estado atual das desigualdades, um que analisa políticas já implementadas e sugere novas (a cargo de economistas da Universidade do Uruguai) e um que analisa como outros blocos econômicos, principalmente a União Européia, atuaram para resolver as assimetrias entre os países-membros. Os modelos econométricos aplicados não se limitaram às fronteiras políticas, mas dividiram o Mercosul em regiões econômicas. Dessa divisão ficou demonstrado que, nesses 16 anos de integração, as brechas de desenvolvimento que haviam entre as regiões começaram a diminuir entre 1991 e 1995, mas desde então voltaram a alargar-se. Geograficamente, as regiões que mais ganharam com a integração estão na Argentina (Patagônia, no extremo sul, Pampa, no centro, região de pecuária, e a Grande Buenos Aires) e as que mais perderam são o Norte e o Nordeste do Brasil e o Paraguai. 'Não se pode saber qual a influência do Mercosul na redução ou aumento dessas diferenças, mas sabe-se que houve fatores que aceleraram e outros que retardaram o crescimento dessas regiões', diz o economista paraguaio Fernando Masi, diretor do Cadep e coordenador do estudo. Masi foi secretário de política econômica do Ministério da Economia do Paraguai entre 2003 e 2004 e participou da equipe que implementou o Fundo de Convergência Estrutural do Mercosul (Focem). Na parte do trabalho que analisa o atual estado das assimetrias, os economistas mostraram que o Brasil foi o grande ganhador do processo de integração em seu principal aspecto: a liberalização tarifária. Sem barreiras para vender seus produtos dentro do Mercosul, os setores produtores de bens de alta tecnologia (e maior valor agregado) brasileiros ganharam um espaço de exportação dentro do bloco que não teriam fora dele. 'A Argentina, o Uruguai e o Paraguai começaram a importar do Brasil máquinas e equipamentos que antes eram importados de outros países, porque ficou mais barato', explica Masi. No período analisado, informa o estudo, o Brasil apresentou melhoras competitivas em vários setores industriais, especialmente nos de químicos, maquinaria elétrica e não-elétrica, equipamentos de transporte, profissionais e científicos. Os países menores ganharam competitivamente nos setores industriais de tecnologia baixa (como têxtil, confecções e calçados) e manufatura de recursos naturais (tabaco, bebidas e alimentos, entre outros). 'No caso do Paraguai, embora sejamos mais atrasados industrialmente, estamos exportando muito mais produtos industriais, como roupas, tecidos, alimentos processados, bebidas, manufaturas de couro e madeira', diz o economista. Nem por isso o Brasil passou à frente dos vizinhos em renda per capita, como mostra o quadro acima. 'Isso se deve a que os indicadores sociais da Argentina e do Uruguai sempre foram e continuam sendo melhores que os do Brasil', diz Masi. Segundo ele, regiões que já detinham fatores de impulso ao desenvolvimento (produtividade, competitividade, localização geográfica, institucionalidade), conseguiram aproveitar melhor o ambiente de liberalização tarifária criado com a integração regional. Assim, as que mais ganharam com o Mercosul foram as mais ricas da Argentina, enquanto o Sul e o Sudeste do Brasil e o Uruguai também ganharam, porém menos. As regiões que nunca reuniram as condições de vantagem comparativa foram ficando para trás. Estão na classificação de 'perdedoras' o Norte e o Nordeste do Brasil e o Paraguai. Para Masi, o atraso dessas regiões não pode ser atribuído ao Mercosul, mas sim à falta de políticas de desenvolvimento, que impediu o acesso aos benefícios da integração. A contribuição do Mercosul para a redução das desigualdades está na implementação de políticas de apoio a essas regiões. 'Sem isso nunca vamos chegar ao estágio de mercado comum ao qual chegou a Europa, por exemplo', diz Masi. Ele afirma que, no caso europeu, 'ficou provado que só a abertura de mercado não é condição suficiente para a convergência de renda das áreas menos desenvolvidas'. Se não forem adotadas políticas de desenvolvimento, diz ele, 'o Uruguai e o Paraguai vão levar 20 anos para participar de forma mais significativa da produção industrial mais avançada do Mercosul'.


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