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China supera Brasil na América Latina

Veículo: SDCI – SP
Seção: Política Econômica
Página: A4

O rápido crescimento da China no comércio mundial tem gerado preocupação nos empresários brasileiros que disputam a ampliação de seus negócios em outros mercados. De acordo com o Conselho Empresarial Brasil China (CEBC) — que associa diversos setores da economia brasileira — o maior desafio para o País perante o emergente asiático não está no saldo das relações bilaterais, mas na competitividade global. Segundo estudos do CEBC, hoje, a China vende mais para o continente latino-americano do que o Brasil. No último dia 16, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, anunciou que pedirá autorização aos demais parceiros do Mercosul para elevar a Tarifa Externa Comum (TEC) — aplicada às importações de produtos de fora do bloco — para o limite máximo de 35% nos setores de calçados, móveis, têxteis e confecções. Segundo Rafael Cervone Netto, conselheiro da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), “a elevação da tarifa é uma recomendação antiga e uma medida compensatória para as importações ilegais dos países asiáticos, principalmente da China”. A previsão é que o aumento aconteça dentro de 90 dias. Na avaliação de Michel Alaby, presidente da Associação de Empresas Brasileiras para Integração de Mercados (Adebim), a elevação da TEC pode ser favorável em curto prazo, “mas o Brasil precisa de um plano de reestruturação competitiva em alguns setores”. Para o setor têxtil, por exemplo, a Abit almeja outras medidas para ter mais competitividade em longo prazo.“Nós precisamos que o governo invista em acordos comerciais com os países compradores de têxtil — principalmente União Européia e EUA, no combate às importações ilícitas da China e numa desoneração na carga tributária de nossa indústria”, avalia Cervone. Para Alaby, a China deve continuar se expandindo no mercado global. “E nós teremos que trabalhar em nichos e, nos diferenciar em terceiros mercados, investir em design, moda e qualidade. Com marcas fortes, poderíamos exportar para a própria China”. As previsões, segundo o economista João Pedro dos Santos, especialista na relação comercial entre Brasil e China, não são otimistas. “O Brasil está atrasado em relação aos outros países emergentes do BRIC - Brasil, Rússia, Índia e China. Nossa previsão de crescimento para este ano é de aproximadamente 3,4%, enquanto Índia deve crescer 10% e China mais que 11%. Será muito difícil competir com os países asiáticos”, prevê o economista. Mercado asiático O amplo crescimento, por outro lado, torna os emergentes asiáticos atraentes enquanto mercado consumidor. Somente nesta terça-feira, dia 20, em São Paulo, foram promovidos dois eventos em busca de oportunidades de negócios com a China. A cidade recebeu uma missão empresarial de Hong Kong, que realizou uma rodada no Brasil, após passar por Chile e Argentina. Já do lado brasileiro, a Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio) realizou um debate com o presidente da Câmara Brasil-China de Desenvolvimento Econômico, Paul Liu, em busca de oportunidades no país asiático, até então pouco explorado pelo setor. Na avaliação do secretário municipal de Relações Internacionais de São Paulo, Alfredo Cotait Neto — que recebeu a missão de Hong Kong — “o mercado asiático é muito complexo e apresenta muitas oportunidades. Se somarmos China e Índia, estamos falando de um mercado com mais de dois bilhões de habitantes. A China está criando uma classe média extremamente forte que, com o crescimento econômico, em cerca de cinco anos poderá ser uma das maiores consumidoras de produtos no mundo”. A intenção da delegação chinesa com a visita foi promover as relações comerciais entre as cidades. “Hong Kong pode ser a porta de entrada para o mercado asiático, assim como São Paulo pode ser para a América Latina”, justifica o diretor executivo do Hong Kong Trade Development Council, Fred Lam. Segundo o diretor, a missão não teria tempo para visitar toda América Latina e, “então escolheu o Brasil e a Argentina por serem os maiores países e as maiores economias e o Chile por apresentar a economia mais aberta da América Latina”. Para ele, Hong Kong possui características para ser uma plataforma dos produtos brasileiros para o mercado chinês. “Estamos focando nas pequenas e médias empresas, que sozinhas teriam dificuldades para atingir o mercado chinês. Hong Kong é uma economia aberta e com experiência em negócios internacionais, possui livre circulação de mercadorias com a China e, por isso, para a empresa que se estabelecer lá, pode ser a grande porta para o mercado asiático”, justifica Lam. Inicialmente, as maiores oportunidades devem ser com as commodities, mas a missão espera também aprofundar o comércio de produtos com valor agregado, como no setor alimentício e de vestuário. A delegação estrangeira, liderada por Fred Lam, incluiu a vinda para o Brasil de oito líderes de negócios do mercado chinês, que representaram diversos setores da indústria de Hong Kong, como de eletrônica, brinquedos, relógios e vestuário. “Temos empresas prontas para trabalhar com produtores brasileiros para explorar o mercado chinês”, afirmou o presidente da Associação de Manufaturados Chinesa, Peter Hung. Em novembro deste ano, em contrapartida, a Prefeitura de São Paulo deve levar uma missão de empresários brasileiros a Hong Kong. “O Brasil pode ampliar a exportação de serviços e manufaturados. Temos de agregar valor aos nossos produtos com tecnologia e qualidade, como no caso dos têxteis e calçados utilizando um design próprio”, almeja o secretário municipal de Relações Internacionais.


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