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Decifrando as instruções de lavagem das etiquetas

Veículo: A Tarde – Salvador Bahia
Seção: Defesa do Consumidor
Página: 15

A durabilidade das roupas depende dos cuidados com a lavagem. Tipo de sabão, uso de alvejante, temperatura da máquina de lavar, tempo de molho. Tudo isso deve ser observado e as instruções mudam a depender do tipo de tecido. As recomendações para limpeza das roupas estão nas etiquetas, mas pouca gente sabe o que significam os símbolos que descrevem como lavar, secar e passar produtos têxteis. O desenho de um ferro indica que é possível passar. Mas o que são as bolinhas que aparecem no interior da figura? A depender da quantidade, informam que a temperatura do aparelho deve ser mais ou menos branda. Há também os símbolos ainda mais difíceis de entender, como o quadrado com um traço horizontal, que significa secar a horizontal, sem torcer, ou um triângulo cortado duas vezes: o mesmo que “não usar alvejante”. Sem legenda explicativa e muitas vezes ilegíveis, as etiquetas deixam o consumidor desinformado e por conta disso muita gente já estragou vestidos que não podiam ser passados com ferro quente ou aquele casaco que só poderia ser lavada a seco. O Código de Defesa do Consumidor determina o princípio da informação, pelo qual o consumidor tem o direito de obter orientações claras, completas e adequadas sobre o produto que está adquirindo. Por conta disso, o Procon entende que somente a colocação dos símbolos não é suficiente, já que não são conhecidos amplamente pela população. “Temos público com variado nível de conhecimento. Os símbolos informam, mas não de forma completa. Assim, o consumidor pode questionar em juízo e pedir a troca do produto caso a etiqueta esteja incompleta”, explica José Augusto Cruz, coordenador de estudos e pesquisas do Procon-Ba, Etiquetas com informações incompletas ou erradas são responsabilidade solidária do lojista, junto com as indústrias. A simbologia utilizada nas etiquetas tem um padrão internacional e foi criada em 1975 pela Associação Internacional para Etiquetagem de Cuidados Têxteis. “Hoje,é regulamentada a norma ISO e funciona no mundo inteiro. O regulamento está em discussão no Mercosul e o que pretendemos é fazer algumas modificações na apresentação desses dados na etiqueta para torná-la mais didática”, explica Márcia Rosa Pereira Franco, gerente de Fiscalização e Verificação da Conformidade do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro). Os produtos têxteis, nacionais ou importados, devem trazer, obrigatoriamente, etiqueta com as informações: razão social, CNPJ, país de origem, composição do produto em porcentagem, indicação de tamanho e cuidados para a conservação. A intenção do Inmetro é distribuir em todo o País cartilha com os cuidados na conservação de roupas. “Nas discussões com o Mercosul, para padronizar a resolução, tiramos o item que previa ter a etiqueta a mesma vida útil do produto. Hoje temos menos irregularidades nas grandes indústrias, o problema são as fábricas informais”, falou Márcia Rosa. Consumidor pede informação e usa o que aprendeu em casa Natividade Santos Cunha, 55 anos, não leu sequer uma etiqueta desde que começou a lavar roupas, mas nunca estragou uma peça. Isso porque usa as lições de lavagem aprendidas com a mãe. “Não coloco roupa de molho em sabão em pó. Não deixo muito tempo na água, no máximo uma hora; e secar é pelo avesso, à sombra. Quando morava no interior, quarava a roupa branca. Tecido fino, ferro frio. Se for roupa grossa, o ferro tem que estar quente”, ensina. Conservação de roupas sem mistério, no entanto, não é para todo o mundo. O gerente de uma loja de confecções na Baixa dos Sapateiros, Ubiratan Bispo dos Santos, diz que em geral os clientes não fazem perguntas a respeito de lavagem e secagem, mas não é raro voltarem à loja com peças estragadas pedindo a troca. “A gente geralmente troca dentro de 30 dias para não perder o cliente, mas sabe que a informação estava na etiqueta e que a pessoa se descuidou”, comenta Ubiratan. Quando a etiqueta não está legível ou é incompleta, as lojas entram em contato com a indústria pedindo correções. “Às vezes devolvemos a mercadoria para a fábrica. É uma forma de não ter tantos prejuízos. E também não vendemos produtos sem etiqueta porque a loja pode ser responsabilizada por isso”, afirma Vanderlei Alves de Souza, gerente de loja. Para a dona-de-casa Maria de Jesus Santos, o principal cuidado para não danificar os tecidos é evitar o uso de água sanitária para alvejar. “Minha máquina de lavar é a minha mão, então não me preocupo com a temperatura da água. O importante é seguir as dicas básicas e observar o que está acontecendo com a roupa durante a lavagem, além de evitar juntar roupas coloridas, para não manchar”, ensina. Karla Cohn usa os serviços de lavanderia e reclama da falta de garantias. “A gente tem que deixar a roupa para lavar assinando termo de compromisso por danos porque a lavanderia não pode garantir que a roupa não vai estragar. Isso porque as etiquetas não são confiáveis. E o consumidor, como fica? Se a gente vai trocar a peça na loja porque as instruções não estavam corretas, é atendida de cara feia”, protesta. As lavanderias também encontram dificuldades porque muitas vezes o cliente corta a etiqueta ou não há dados suficientes. “Quando a roupa mancha, pedimos ao cliente que peça providências à loja e à indústria. Temos conhecimento técnico, mas precisamos receber instruções corretas”, diz Leila Nogueira, gerente da lavanderia 5 à sec. Nova resolução no âmbito do Mercosul trará modificações As três principais etapas do processo de conservação – lavagem, secagem e passadoria – têm símbolos específicos aos quais são acrescentadas informações complementares: uma cruz sobreposta (x) indica a proibição do procedimento, uma barra (-) abaixo informa que o tratamento deve ser brando, e duas barras (=) alertam que o procedimento deve ser muito brando. “A quantidade de possíveis combinações é enorme. No entanto, conhecendo as principais, não é difícil compreender. Cabe ao consumidor buscar o mínimo de conhecimento”, defende Sylvio Nápoli, gerente de capacitação de infra-estrutura da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit). Até dezembro de 2008, as indústrias devem adotar algumas mudanças definidas pelo Mercosul na lei das etiquetas. Além de inserções de novos símbolos após a revisão da norma ISO, será recomendado que a peça traga tags com informações complementares e explicação sucinta do significado de cada símbolo. Ainda esse mês uma nova reunião do Mercosul vai tratar de complementações à resolução que vai padronizar a etiquetagem da produção têxtil dos países. Uma das questões mais importantes é a indicação de tamanho das peças. Ficou definido que as indústrias continuarão usando as mesmas referências, por numeração ou tamanhos (P, M e G), mas com um detalhe: o Brasil vai criar uma norma de padrões referenciais, e a indústria, caso queira, vai produzir seguindo tais padrões. “Acontece que cada país ou região tem população com perfil antropométrico diverso. Então uma roupa média para os padrões brasileiros pode ser pequena para os argentinos, por exemplo. Por conta disso, as negociações não conseguiram avançar para criação de um modelo único”, revela Márcia Rosa Pereira Franco, do Inmetro. Ainda não está definido prazo de conclusão da norma de padrões referenciais. Uma comissão técnica com conhecimentos de antropometria, ergonomia e modelagem fará estudo do perfil do brasileiro e vai determinar medidas de referência para a confecção de camisas, calças, saias, bermudas, roupas íntimas. Já há estudos a esse respeito sendo realizados no Brasil.


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