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Brasileiro “made in China”

Veículo: O Globo
Seção: Economia
Página: 23

Uma em cada quatro empresas brasileiras enfrenta a concorrência de produtos chineses no mercado doméstico, segundo pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI). O trabalho mostra um quadro preocupante: 52% das companhias que disputam o mercado nacional com a China já registraram queda nas vendas, e no exterior esse percentual sobe para 58%. Além disso, 12% das grandes empresas entrevistadas já têm parte de sua produção feita na China, onde os custos são menores. Foram ouvidas 1.581 pequenas, médias e grandes firmas. - O processo de competição com a China está se intensificando, e as empresas brasileiras percebem isso tanto no mercado nacional quanto o exterior – disse o coordenador da Unidade de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco. Mais da metade das exportadoras enfrenta concorrência chinesa No grupo de empresas que decidiram usar a China como plataforma de produção, 7% têm fábrica própria no país asiático e 5% terceirizaram parcialmente as atividades. Entre os setores estão o automotivo, o de máquinas e materiais elétricos e o de metais. Castelo Branco diz que não é possível atestar se há troca do Brasil pela China ou fuga de investimentos. Segundo ele, a internacionalização das empresas brasileiras é positiva e só deve ser considerada preocupante se prejudicar a indústria nacional, o que não é possível captar pelo estudo: - Uma empresa pode ter transferido parte de sua produção para a China por uma questão de logística, para poder vender com mais facilidade para o mercado asiático, ou para reduzir parte de seus custos. No mercado doméstico, os setores mais prejudicados são têxtil, de vestuário, de equipamentos hospitalares e calçados. Três em cada quatro empresas têxteis e duas em cada três de vestuário já perderam espaço para os chineses. O presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados, Elcio Jacometti, diz que o setor está sendo "massacrado". O Brasil importou sete milhões de calçados chineses em 2004, número que pulou para 14,7 milhões em 2006. Segundo Jacometti, os brasileiros preparam um pedido de aplicação de direitos antidumping: - Muitos produtos entram no Brasil subfaturados ou contrabandeados. Até setembro, entraram três a quatro milhões de pares declarados por menos de US$ 1. Qual é o calçado que custa isso? No mercado internacional, 54% das empresas exportadoras sofrem com a ameaça chinesa. Nesse grupo, 6% deixaram de atuar no exterior, e 88% das exportadoras de móveis e de madeira perderam clientes. O dólar enfraquecido, os juros e a carga tributária elevados são os principais vilões. O diretor superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), Fernando Pimentel, diz que as importações crescem 40%, enquanto as exportações estão estagnadas. A saída é desonerar o setor. No setor eletroeletrônico, o quadro é parecido. Está mais barato montar alguns itens - como batedeiras e liquidificadores - lá fora e depois trazê-los. As empresas também tentam enfrentar a concorrência chinesa com redução de custos e mais qualidade. É preciso ainda diferenciar marcas e, até, reduzir a margem de lucro. O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, reconhece que a competição com a China ficou mais acirrada. Mas ele afirmou ontem que a compra de produtos chineses considerados sensíveis - especialmente têxteis e vestuário - está perdendo a força, depois de acordos voluntários de cotas de exportação pela China. Furlan disse ainda que o governo está mais eficiente no combate às fraudes nessas importações, e que o patamar do câmbio não mudará tão cedo. Empresários longe do dólar a R$ 3 Depois de três anos atormentada pelo câmbio valorizado, parte do setor produtivo que mais sofreu com o dólar enfraquecido jogou a toalha e, em vez de esperar por uma depreciação que leve a taxa ao patamar de R$ 3, já adota estratégias de expansão da produção e aumento da competitividade. Isso porque o cenário é cristalino: o forte desempenho da balança comercial e a entrada de investimentos ficarão praticamente inalterados, mantendo a moeda americana muito próxima de sua cotação atual, na casa de R$ 2,10. - Os empresários estão mais preparados para um câmbio longe do patamar de R$ 3 que tanto queriam - avalia Marcelo Azevedo, economista da CNI. É o caso do setor calçadista, que sofre forte concorrência sobretudo dos fabricantes chineses. A idéia agora é fazer com que os produtos exportados tenham mais valor agregado (mais sofisticados e caros) e focar em mercados que compram pouco desses produtos brasileiros, como a Europa e a América Latina. - Que opção nós temos? Temos de buscar novos mercados - diz o presidente da Abicalçados, Élcio Jacometti, lembrando que, apesar de o volume de exportações ter recuado em 2006 cerca de 4%, o faturamento se manteve em R$ 1,8 bilhão.


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