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Ritmo se acomoda na indústria, mas bens de capital têm forte alta

Veículo: Valor Econômico
Seção: Brasil
Página: A3

A indústria brasileira começou o ano com um quadro de estabilidade em relação ao final do ano passado. No conjunto, a produção caiu 0,3% ante dezembro com dados que já descontam fatores sazonais, fortemente influenciados pela queda de 4,7% na indústria de refino, por conta de paralisações técnicas de refinarias da Petrobras, conforme divulgou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Se não fosse esse recuo, o ritmo seria de um pequeno crescimento entre 0,1% a 0,2% na atividade fabril, como calculou Bráulio Borges, economista da LCA Consultores. Na comparação com janeiro do ano passado a indústria avançou 4,5% e, em doze meses, 2,9%, ligeiramente acima do crescimento de 2,8% no ano passado. Para o IBGE, esta performance sugere mais uma "acomodação", após três meses de expansão, do que uma mudança de tendência de expansão da atividade fabril, acelerada no último trimestre de 2006. Para o coordenador de Indústria do instituto, Sílvio Salles, os números de janeiro são mais favoráveis em outras bases de comparações do que no ajuste sazonal. "Ao crescer 4,5% na comparação mensal, a indústria abre o ano com expansão acima da média do ano passado, de 2,8%", destacou. Pela média móvel trimestral, indicador de tendência, a produção industrial do país cresce há dez meses, ainda que em velocidade lenta, observou. Economistas ouvidos pelo Valor desenham cenários otimistas, de avanço da produção industrial. Para fevereiro, as estimativas variam de estabilidade a um aumento entre 0,4% e 0,6% na comparação com janeiro e taxas superiores a 3% na comparação com 2006. Alexandre Teixeira, da MCM Consultores, avalia que os dados do IBGE não revelam desaceleração neste início de ano em relação ao último trimestre de 2006, quando a produção industrial cresceu 3,2%. "Um exercício econométrico feito pela MCM projeta para a indústria crescimento num ritmo entre 3,5% a 3,8% para os próximos meses". Para Fernando Fenólio, da consultoria Rosenberg Associados, o crescimento industrial vem sendo sustentado pela indústria de bens de capital, como demonstraram os números de janeiro. No mês, a produção de máquinas e equipamentos foi a que mais cresceu, expandindo 1,7% ante dezembro e 18% na comparação com janeiro do ano passado e acumulando aumento de 6,6% na taxa de doze meses. Nos cálculos da Rosenberg, em janeiro, o consumo aparente de máquinas e equipamentos (levando em conta produção e a importação de bens de capital menos a exportação) avançou 5,8% ante dezembro e 15,7% ante janeiro de 2006. Deste percentual, 29% foi de importação de máquinas e equipamentos e 12,2%, de produção local. "Esta é uma indicação de aumento de oferta futura, reduzindo a probabilidade de um descasamento entre oferta e demanda, o que aponta para um cenário confortável no ano", ressaltou o economista. Outro setor que cresceu foi o de bens de consumo duráveis. Em relação a dezembro, a produção deste segmento subiu 2,1% e, ante janeiro de 2006, 4,7%. Isabella Nunes Pereira, do IBGE, explicou que há uma influência grande de exportações de linha branca neste resultado, que vem até mesmo superando as exportações de veículos. A produção de linha branca aumentou 15% em relação a janeiro de 2006. Bráulio Borges, da LCA, acredita que pode ser detectado um movimento de reposição de estoques na indústria automobilística, em janeiro. Na linha marrom (TVs, DVDs e aparelhos de som), ocorreu uma queda de 30,1% na produção do primeiro mês do ano, fortemente influenciada pela base de comparação, pois em janeiro de 2006 os fabricantes estavam de olho na Copa do Mundo.Os bens intermediários tiveram queda de 0,3% em janeiro ante dezembro e cresceram 3,2% em relação a janeiro de 2006. Mas, a indústria de refino foi a que teve contribuição negativa de 0,4 pontos percentuais no desempenho da indústria em janeiro ante dezembro, derrubando o índice, conforme avaliou Borges da LCA Consultores. Apesar do efeito desta indústria ser pontual, como destaca o economista, o setor de refino sozinho pesa 8% na produção industrial. "A produção industrial teria tido um crescimento no início do ano se esta indústria fosse excluída do cálculo da pesquisa". Neste começo de ano, produtos do segmento de bens semi e não duráveis continuaram sofrendo a influência do câmbio apreciado, apontou Sales, do IBGE. No seu entender, a indústria continua aumentando sua capacidade produtiva, mas, indústrias nacionais continuam afetadas fortemente pela entrada de importados. "As indústrias de calçados, têxtil e vestuário, além de fecharem no vermelho em 2006, abriram 2007 acentuando a queda". A produção de calçados, por exemplo, recuou 11,5% em janeiro, em relação mesmo período do ano passado. (do Valor Online) Economistas vêem processo de ajuste de estoques Os indicadores industriais mais recentes sinalizam que o processo de ajuste de estoques que começou no ano passado chegou ao fim, deixando-os em níveis desejados e que, a partir de agora, o aquecimento da demanda será acompanhado por aumentos na produção da indústria. Essa é a avaliação de economistas ouvidos pelo Valor.A análise está embasada no crescimento das vendas da indústria e também do varejo acima dos resultados mostrados pela produção. Nos últimos 12 meses até dezembro do ano passado (último dado disponível), as vendas do comércio acumularam elevação de 6,16%. Na mesma comparação, a indústria de transformação teve alta de 2,6% em sua produção. A indústria total, que inclui a extrativa, mostrou um crescimento de 2,82%. "Temos visto há algum tempo a produção crescer em ritmo menor do que o varejo. E acredito que essa diferença está sendo suprida por aumento de importações e redução dos estoques", argumenta Giovanna Rocca, economista do Unibanco. Na comparação mensal com o mesmo mês do ano anterior, as variações do comércio também estão mais fortes do que as da produção. Pelos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o comércio vendeu 6,9% a mais em outubro. A indústria de transformação, 4,96%. Em novembro, o varejo avançou 9% e a produção, 3,9%. Já em dezembro, a indústria produziu 0,16% a menos e as vendas do comércio subiram 5,65%. Giovanna ressalta que a maior alta da produção industrial no ano passado ocorreu no último trimestre, com uma elevação de 1,1% em relação ao terceiro trimestre. No entanto, quem puxou esse resultado foram os bens de capital, com expansão de 3%. A produção de bens duráveis ficou estável e a de não-duráveis cresceu apenas 0,5% nesse período. "Em contrapartida, a venda desses bens no varejo apresentou bom desempenho", diz a economista. As sondagens conjunturais realizadas pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), também indicam que 2007 começa com estoques mais ajustados. Segundo a FGV, em janeiro deste ano 7% das empresas ouvidas na sondagem consideram seus estoques excessivos, enquanto para 2% delas eles eram insuficientes e para os demais 91% eles estão ajustados. No começo de 2006, 10% das empresas consideram seus estoques excessivos e os mesmos 2% afirmavam que eles estavam insuficientes. A economista do Unibanco faz um cálculo que subtrai da produção física do IBGE as vendas da indústria e essa diferença tem se estreitado nos meses mais recentes. "As vendas ainda evoluem acima da produção, mas esse número tende a ficar menor e a demanda e a atividade industrial tendem a caminhar em níveis mais próximos", avalia Paulo Levy, diretor de Estudos Macroeconômicos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). A retração de 0,3% na indústria geral em janeiro, na comparação com dezembro, não muda a análise da Rosenberg & Associados de que a produção continua em um processo de expansão. "Esses movimentos são comuns nas comparações mês a mês. Mas a comparação com janeiro do ano passado e as médias móveis mostram que esse setor está aquecido", diz Fernando Fenolio, economista da consultoria. Ele pretende, inclusive, alterar para cima a projeção de crescimento de 3,5% para a indústria em 2007.Ainda que o IBGE tenha revelado na semana passada que os estoques contribuíram com 0,5 ponto percentual do Produto Interno Bruto (PIB), Levy pondera que os dados do IBGE precisam ser olhados com cautela, já que o grosso nesses estoque são produtos agrícolas e rebanho bovino. Roberto Olinto, coordenador de Contas Nacionais do IBGE, esclarece que a variação de estoques da indústria no curto prazo é, atualmente, pouco significativa economicamente. O IBGE ainda não tem os dados de estoques do ano passado separados por setores, mas acredita que eles tenham seguido o mesmo padrão dos anos recentes. Cerca de metade desse dado reflete a parte agropecuária, mais 10% ficam com o petróleo. "O grosso do estoque que medimos é formado por esses setores e pela produção de ferro", afirma Olinto. Para ele, hoje em dia as empresas trabalham com reservas de produtos cada vez menores, uma vez que manter itens estocados exige um alto custo. "Elas preferem diminuir a produção e atender os pedidos conforme vão chegando", diz. Ele afirma que muitos analistas se equivocaram no segundo trimestre do ano passado quando a produção industrial cresceu pouco e o consumo das famílias veio forte. "Olharam para os estoques e acharam que eles tinham crescido. Mas o estoque que cresceu foi o de produtos agrícolas, como o fumo, uma vez que era sua época de colheita. E esse estoque vai sendo utilizado ao longo do ano para a produção de cigarros", explica o coordenador. Na avaliação de Olinto, o que explicou aquele movimento foi a expansão vigorosa da importação. "Basta olhar para o varejo que cresceu a oferta tanto de macarrão italiano quanto de aparelho de DVD chinês", comenta. Levy, do Ipea, diz que é difícil avaliar de forma precisa o que tem acontecido com os estoques, já que não há um dado definitivo. E argumenta que é muito mais simples identificar esse movimentos de acúmulo de produtos nos setores associados aos bens primários, sejam minérios ou agrícolas, do que nos itens industriais. E o IBGE não pretende aprofundar essa análise. Segundo Olinto, a nova metodologia de cálculo das contas nacionais não inclui nenhuma mudança a respeito da medição dos estoques. "As relações intersetoriais são menos claras na indústria, é complicado ver quanto de cada produto produzido por usado por cada setor", explica Levy. Ainda assim, o diretor do Ipea acredita que o descompasso entre o crescimento de 6,2% no varejo e de 2,8% na produção industrial em 2006 indica, sim, aumento da importação e queima de estoques.


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