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Metade dos sem emprego é jovem

Veículo: Estado de são Paulo
Seção: Economia
Página: B12

Um em cada dois brasileiros desempregados tem de 15 a 24 anos. Pressionado pelo baixo crescimento econômico, o número de jovens desocupados mais que dobrou em dez anos, saltando de 2,1 milhões para 4,4 milhões de pessoas. No mesmo período, a participação desse segmento no total de desempregados passou de 47,6% para 49,6%, indicando que a escassez de novos postos de trabalho afetou muito mais os jovens do que as demais faixas etárias. Os números são de um levantamento feito pelo economista Márcio Pochmann, do Centro de Estudos de Economia Sindical e do Trabalho, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (PNAD), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), referentes a 1995 e 2005. Dos 8,9 milhões de desempregados que existiam em 2005 (último dado disponível), 4,5 milhões tinham menos de 15 anos e mais de 24 anos. Em 1995, eram 2,4 milhões em um total de 4,5 milhões de pessoas sem emprego no País. De 1995 para 2005, a taxa de desemprego dos jovens aumentou de 11,4% para 19,4% da População Economicamente Ativa (PEA)- um salto de 70,2%. A população jovem somava 35,1 milhões em 2005. Para as demais faixas etárias, a desocupação cresceu 44,3%, passando de 4,3% para 6,2%. No geral, a taxa de desemprego nacional aumentou 52,4% - de 6,1% para 9,3% da PEA. "A situação do jovem no mercado de trabalho se agravou nos últimos anos, apesar dos esforços do governo para melhorar as condições de ingresso no primeiro emprego", diz Pochmann. O problema, segundo ele, é o baixo crescimento do País, insuficiente para a abertura de vagas para todos que entram no mercado de trabalho. Entre 1995 e 2005, o Produto Interno Bruto (PIB, a soma de todas as riquezas produzidas no País) teve crescimento médio de 2,6% ao ano. Nesse período, houve ingresso de 2,2 milhões de pessoas, em média, por ano no mercado de trabalho a cada ano. Desse total, 414 mil tinham entre 15 e 24 anos de idade. "Normalmente, o jovem já enfrenta dificuldade para encontrar uma ocupação", afirma o economista da Unicamp. "Numa situação em que não há emprego para todos, há um estrangulamento na entrada do jovem no mercado de trabalho." Pochmann ressalta que até mesmo vagas que tradicionalmente são ocupadas por jovens passam a ser disputadas por profissionais experientes que se encontram desempregados."Existe uma legião de desempregados dispostos a aceitar qualquer condição para ter uma nova ocupação." Apenas 10,4% das vagas criadas entre 1995 e 2005 foram ocupadas por jovens. Nesse período, foram abertos 17,5 milhões de postos de trabalho em todo o País. Desse total, 1,8 milhão foram para pessoas de 15 a 24 anos de idade. Nesse mesmo período, 4,1 milhões de jovens passaram a disputar uma vaga no mercado de trabalho. "A cada 100 jovens que entraram nesse mercado no período de referência, somente 45 encontraram algum tipo de ocupação, enquanto 55 ficaram desempregados." O levantamento mostra que a taxa de desemprego entre os jovens subiu mais para as mulheres do que para os homens no período pesquisado. A alta foi de 77,3% para o sexo feminino e de 57,7%, para o masculino. A pesquisa revelou também que houve aumento de 14,4% na taxa de jovens que estudam. Em 1995, apenas 40,9% dos jovens ocupados ou desempregados estudavam. Em 2005, essa taxa subiu para 65,3%. À espera de uma chance, saída é encarar o trabalho temporário A bióloga Sabrina Muñoz, de 25 anos, já participou de duas importantes feiras de negócios em São Paulo desde julho do ano passado, quando terminou a faculdade. Mas nenhum dos eventos era da área biológica. Sabrina trabalhou como recepcionista nos estandes das feiras. Foi uma alternativa de trabalho temporário, enquanto busca emprego na área de sua formação. "Mandei currículos para institutos, laboratórios e zoológicos, mas ainda esbarro na falta de experiência." A oferta de dinheiro rápido dos empregos temporários atrai jovens como Sabrina. Em feiras grandes, as recepcionistas podem receber até R$ 150 por dia de trabalho. "É uma oportunidade de remuneração que não dá para deixar passar", afirma a bióloga. Mas, mesmo com o retorno financeiro rápido, ela se sente frustrada. "Sou apaixonada pela natureza, estudei para trabalhar com isso e não consigo." Na Semana Internacional da Indústria Têxtil, que ocorre nesta semana em São Paulo, cerca de 2 mil pessoas foram contratadas em caráter temporário. De acordo com os organizadores da feira, muitos desses trabalhadores são jovens universitários ou com ensino superior completo. É o caso da psicóloga Camila dos Anjos, de 22 anos, que se formou há dois e nunca atuou na área. "Durante a faculdade precisei trabalhar para pagar os estudos." Camila sonha em trabalhar com psicologia organizacional, mas acredita que não poderá abandonar tão cedo as feiras. "Sei que não dá futuro, mas é o que me sustenta." A falta de experiência também foi um problema para a fonoaudióloga Thaís Padilha, de 22 anos, encontrar uma colocação no mercado. "Meu curso era integral e não pude fazer estágio na área", explica. Com o diploma na mão desde o final do ano passado, mas sem emprego, ela viu nas feiras uma possibilidade de renda. Participa de até duas por mês, onde recebe R$ 600 por quatro dias de trabalho. A rotina é desgastante: dez horas por dia de pé, sorrindo e orientando os visitantes. Até o final do ano, garante, pretende abandonar o dia-a-dia nos eventos. "É um trabalho muito incerto."


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