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Indústria depende mais dos importados

Veículo: Folha de São Paulo
Seção: Dinheiro
Página: B1

Aumento na compra de bens no exterior pode levar o país à "desindustrialização", afirma associação de comércio exterior Estudo mostra que, para elevar em 1% a produção de bens duráveis, importações do setor crescem 2,33%; antes, alta era de 0,57% A economia brasileira está mais dependente de importados. Para produzir o mesmo volume de mercadorias, a indústria está recorrendo mais a fabricantes no exterior. Sinal de que há troca de produtos nacionais por estrangeiros no país. É o que mostra levantamento do Instituto de Economia (IE) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) com base em dados da Pesquisa Mensal da Indústria do IBGE e no índice de importação da Funcex (Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior). Com o real mais valorizado em relação ao dólar -portanto, favorável às importações-, as indústrias de bens de consumo duráveis, intermediários e de capital estão optando mais por fornecedores estrangeiros. Esse movimento aparece na relação entre a produção e a importação desses setores, especialmente entre 2004 e 2006, quando a valorização do real foi da ordem de 27%. De 2000 a 2004, a cada aumento de 1% na produção anual da indústria de bens de consumo duráveis (veículos, materiais eletrônicos, equipamentos de transporte e móveis), a importação desse setor subia 0,57%, em média, por ano. De 2004 a 2006, esse percentual aumentou para 2,33%. "Pode-se dizer que a demanda por bens de consumo duráveis "vazou" para fora do país", diz Carlos Thadeu de Freitas Gomes Filho, economista do IE da UFRJ, que calculou a relação entre a produção e a importação da indústria brasileira. O avanço dos importados também ocorreu na indústria de bens intermediários (papel e celulose, química, metalúrgica, plástico e têxtil, entre outros). Para elevar a produção anual em 1%, a importação desse setor crescia 1,08%, em média, por ano, entre 2000 e 2004. Esse percentual saltou para 1,61% no período de 2004 a 2006. Na indústria de bens de capital (máquinas e equipamentos, materiais elétricos e para escritório, entre outros), a importação subia 0,92%, em média, por ano, a cada 1% de aumento da produção de 2000 a 2004. Esse percentual subiu para 1,73% entre 2004 e 2006. Depender mais de importados é bom ou ruim para o país? Para Freitas Gomes, o ritmo da alta das importações em relação à produção não preocupa. "A indústria de bens intermediários é bastante competitiva no mercado mundial, que pode estar importando mais também para exportar mais. E, no caso de bens de capital, a importação ocorre para modernizar as indústrias no país, o que resulta em maior ganho de competitividade e preço, o que mantém a inflação baixa." No curto prazo, na sua avaliação, alguns setores, como a indústria eletroeletrônica, incluída no setor de bens duráveis, podem sofrer mais o efeito do aumento das importações. "Mas, a médio prazo, entendo que todo esse processo irá se consolidar e que toda a indústria deverá ganhar", afirma. Efeito maléfico Para José Augusto de Castro, vice-presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), o aumento da oferta de bens importados -tanto de insumos como de produtos acabados- na economia brasileira não é benéfico para o país. "Se a economia brasileira estivesse crescendo num ritmo mais acelerado, seria um bom sinal. Só que não está. Esse aumento na oferta de importados resulta em desindustrialização e desemprego no país", afirma. Na sua avaliação, a indústria deve estar importando mais bens de capital para aproveitar as facilidades de crédito e substituir equipamentos antigos por novos. "Isso não quer dizer que está investindo para aumentar a produção e o emprego. Se o país tivesse investindo mais, o PIB brasileiro estaria crescendo muito mais", afirma. Além disso, ele lembra que computadores estão agrupados no setor de bens de capital. "E computadores não são usados para aumentar a produção." Fábio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores, diz que o aumento das importações ocorreu também devido à falta de oferta de alguns produtos no país. "O ideal é que a participação da importação em relação à produção comece a diminuir. E isso só vai acontecer com mais investimentos, o que não ocorre da noite para o dia."


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